A Caçulinha

A CAÇULINHA
Miguel Carqueija


Sempre que existem irmãos
tem sempre alguém de caçula;
pequena de pés e mãos
me chamam até de gandula!

A maninha e o maninho
não fazem pouco de mim:
e tampouco o meu paizinho,
sou muito amada enfim!

Posso ser muito novinha
mas a minha força espanta:
levo no colo a priminha
que pesa como uma anta!

A mamãe é muito doce,
e me vê como criança;
se criança eu ainda fosse
não estaria na dança!

Pois já faço faculdade
e tenho o meu ganha-pão;
mãezinha, já tenho idade,
já me bate o coração!




A vida inda é muito bela
e descalça na varanda
pareço até Cinderela
perfumada com lavanda!

E o meu Príncipe Encantado
quando virá finalmente?
De há muito é esperado
e há de chegar brevemente!

Sabem, amo a Natureza,
viver cercada de mato,
no verde há tanta beleza
e poesia de fato!

Um canto de passarinho
me transporta para o Céu:
penso até em fazer ninho,
bancar que sou uma xexéu!

Quero ser levada a sério
mesmo sendo a caçulinha;
faço tudo com critério,
sou uma cedêefezinha!




Sempre fui estudiosa
e os colegas me respeitam;
posso até não ser formosa
porém todos me aceitam!

É que Deus é o meu farol
por quem dou a minha vida;
faça chuva ou faça sol
é uma existência querida!

Na igreja, na escola,
no trabalho, no lazer,
ou dando ao pobre uma esmola,
tudo eu faço com prazer!

Levo à rua o cachorrinho,
ajudo a mãe no fogão;
leio um livro com carinho,
com o mano faço a lição!

Não diga que eu sou fedelha
de todo inexperiente,
não faço o que dá na telha
mas o que a razão consente!

Mas aquilo que me move
no frio, chuva ou calor,
também é o que me comove:
no peito carrego amor!








Imagem do filme norte-americano "Tammy the bachelor" (Tammy e o bacharel), de Ross Hunter (1959) exibido no Brasil como "A flor do pântano": Debbie Reynolds como Tammy.

ipê e palmeiras: pixbay