A Médica

A MÉDICA
Miguel Carqueija


Das amarguras da vida
a doença é a mais comum;
por isso estou nessa lida,
não quero perder nenhum

paciente que o destino
coloca nas minhas mãos;
tenho de ter muito tino
e ver todos como irmãos.

Eu me sinto sacerdote
cumprindo missão sagrada;
salvar a todos, meu mote,
e me sinto abençoada

se Deus me dá o poder
de debelar a doença
o que mais posso querer?
Esta é a minha recompensa!

Pela noite me desvelo
perco o sono, ganho a vida;
fazer o bem é o anelo,
incumbência tão querida!





Remédio só não resolve,
precisa também carinho:
isso aqui você dissolve
na língua, vai com jeitinho!

Deixa eu tirar a pressão,
ver seu peso, sua altura;
auscultar seu coração,
te examinar com brandura.

Como é frágil a velhinha
que chega aqui amparada;
mais um dia foi mocinha,
como sua neta alourada

que a traz com tanta afeição
e como eu gosto de ver
amor e dedicação,
lealdade pra valer!

Mas nem todos são assim
e me corta o coração
ver tanto abandono enfim,
é uma triste sensação!

Diagnostico o problema,
como posso eu oriento;
Jesus! Mas é tanto dilema
que me falta até o alento!





Até do meu bolso às vezes
eu pago um remédio caro;
ver os pobres como reses
num destino tão amaro

hospitais no abandono
faltando o essencial,
chego a perder o meu sono
chorando o pobre mortal

que depende do sistema
pra poder seguir na luta;
porém comigo não tema,
comigo é mais doce a fruta!

O paciente precisa
ser com zelo bem tratado,
mas um bom médico visa
fazê-lo também amado!

Receito com a consciência,
cada caso é diferente:
se uso a minha Ciência
uso escrupulosamente!

Pois quando chego em meu lar
e vou de noite dormir
quero estar leve e sonhar
e nos meus sonhos sorrir!


Eu não quero ter pesada
minha consciência enfim;
quero estar aliviada
por cumprir até o fim
meu dever profissional,
e jamais fazer o mal!



Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2015.










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