Longe..tão longe..longe....
Longe..tão longe..longe....
Onde estão agora..
Aqueles que fizeram minha história..
Por quê só na minha memória..
Os barulhos e cheiros de outrora...
A casa cheia..vozes..afazeres
Minhas tias corrigindo dos alunos os deveres..
Minha vó Maria e o grupo de teatro..
Meu avô Gentil..Mestre nato..
Onde estão os barulhos..
A porta sempre aberta..
Para abrigar poetas..
Gente do norte..oriunda..
Gente com fome..gente perdida..
Nas costumeiras redes.. acolhidas...
Onde está a minguada mesa..
Para dividir as pobrezas..
Onde..estão as matulas..
Para os finais das noites escuras..
Onde me perdi??!!
E lá volto sempre..buscando o que adquiri..
E nada..nada encontro..apenas as dores de tia Kirmá..
As parcas lembranças do que pensa Herondy..
E olho a sala..vejo os caixões..um por um..e penso estar a me despedir..
Tia Iolanda..cega..cega..vive a cair..
E em quedas assim..voltamos a nos reunir..
Depois..todos por aí..
Eu para sempre presa..nas lembranças..
E sei..onde nasci..
É que sim..quero dormir..
Na cama de minha avó..
Brigando por uma rede e só!!
“Tia Iodete..são para tí esses versos..toscos..mancos..rotos..
Pois tu minha tia..divides o pão..com o órfão.. com o irmão..
E tuas panelas tia..nunca terão tampas não..
E tua porta..não terá travas para o só..o semelhante..o irmão!
Peço agora..tua benção...Um abraço tia..
Perdi tudo tia..as estrelas..a lua e a fantasia!!
Mas estou aqui minha doce tia..sobrevivi..."
***Especialmente dedicado à minha tia Iodete de Souza Borges.
Dorothy Carvalho
FIM