MENINA DE POÁS

Menina toda feita de pano

Retalhos de pequenos poás!

Feliz acredita que os anos...

Jamais ela os irá recontar.

Chegou algo desprevenida

Em plena cidade de pedra,

Chegou como se chega na vida,

Para um roteiro em espera.

Menina foi recepcionada

Por grande dobrada de sinos

Na rua nunca foi amparada

Perdeu o seu brinquedo de ursinho...

Menina, pulsa pequenos sonhos!

O de balas de coco ganhar

Sorvetes e jamais abandono!

No mundo veio só passear.

Também pula a amarelinha

Certeza duma casa acertar...

Mas como ela é toda molinha,

Parece que vai desmaiar.

Nasceu de olhos arregalados

Para o mundo bem observar

Menina foi feita de pano

De retalhos para se desmontar.

Escolheu bolinhas coloridas

Para toda roupagem alegrar,

Agora já está meio aflita,

Se nem sabe o que é rebolar!

Menina toda ela é de pano

De boca vermelho carmim

Sequer sabe que toda menina...

Só sonha com um calmo jardim.

De flores das mais variadas

Orquídeas, margaridas, jasmins!

Menina de pano molhada

De chuva, foi cheirar...alecrim!

Menina de pano acredita

Toda a vida poder enfeitar

Se enfeita com laço de fita

Para a sorte poder esperar...

Menina foi feita de pano

Forrada de alvo algodão...

Mas algo lhe é muito estranho:

Parece que tem coração...

Ainda que feita de pano...

Retalhos do que não se quis,

Menina insiste no engano,

Ensaia sempre um amor aprendiz.

Menina acredita que um dia

Então poderá desfilar

Nas linhas alegres da vida

Vestida só de alvos poás...

Mas como ela é toda de pano...

Nas ruas montaram o seu lar,

De pano... é qual desengano:

Não tem mais para aonde voltar.