O inventor da poesia

Gosto da poesia despretensiosa que surge da música no maior dos repentes na cara da gente.

Gosto da poesia mais gostosa que os doces de Cora,

mais feliz que as ternurinhas de Bandeira,

mais linda que as coisas findas de Drummond.

Gosto da poesia feminina de Chico Buarque,

da poesia dia-a-dia de Oswaldo Montenegro,

da nobreza de Bilac

à simplicidade de Quintana.

Gosto da dor de Lispector

e da flor de Cecília.

Gosto de todo Pessoa

e de tudo em Camões.

Mas pra mim o maior dos poetas não escreveu sequer uma linha.

Ele Inaugurou o lúdico;

compôs sonetos em notas;

uniu seus traços aos tons;

deu ao abstrato um parecer sensível;

fez amor à alma;

fez sorrir os anjos;

consternou a música ao escrever a lágrima,

mas não fez-se em versos.

Pra mim, o maior de todos os poetas foi Johann Sebastian Bach,

O inventor da poesia.

Enfim,

gosto da vida entre poesias

e de poesias entre melodias.

De lágrima em lágrima

fui regando meus sorrisos de felicidade.

Quem nunca chorou ao som de um violino

ou nunca sentiu a cor da poesia,

não sabe da vida

a parte mais viva.

Não sabe dar vida

à alma incontida.