Para ti!
Um presente... para ti.
Rabisco ao acaso,
num quase acidente de percurso.
Montanhas, céu, sol, mar.
Trilhas, pedras no caminho, precipício, cansaço.
Passo.
Silêncio absoluto, sinfonia de passarinhos,
ruídos indecifráveis e indescritíveis de dentro das sombras da mata,
barulho das ondas vindo de lá, de não tão longe.
Borboletas.
Barcos, pescadores, peixes.
Maré alta, maré baixa.
E eu de passagem.
Duas redes – a que balança meu corpo
e a que traz alimento.
Evoco outras redes.
Alguns humanos em férias. Turistas. Estrangeiros.
Banana-nanica no mato.
Jaca. Caldo-de-cana, garapa.
Uma fatia de abacaxi, limão-rosa.
Outros humanos sem férias. Trabalho. Rotina.
Capina em torno da casa (de barro e de pau-a-pique) coberta de sapé.
Comunidade. Joões, josés e marias.
Pão-caseiro.
Mandioca, moenda, fabrico de farinha.
Engenho de cana.
Crianças...
(O que haverá depois do oceano?)
Só barcos que chegam e que saem.
Trazem gente, levam gente.
Trazem peixes, levam peixes.
Cadê os jovens e adolescentes?
Deixaram de ser crianças.
Ouviram o canto de algum deus-marqueteiro
e partiram em busca do pote-de-ouro.
Eu um dia ouvi esse canto.
Energia solar...
Lampião a querosene.
Água encanada que vem lá do morro.
Passado e presente presentes.
Trem que nunca vem cala na memória
e eu tenho que andar a pé.
Maria-fumaça não deixa nem rastro.
Cavalo, carroça e charrete também são para poucos.
Memória insistente a minha.
Assim registro para ti
barcos, canoas, barqueiros.
(um culto ao deus Netuno?!)
Natureza.
Drummond,
a vida não parou!
Só não tem automóvel.
(janeiro de 2008)
Ponta Negra, Parati - SP