E NINGUÉM VIU...

Amanheceu no horizonte um sol vermelho

dentre nuanças dum céu pouco alvissareiro

e ninguém viu.

Então surgiu um canto algo amedrontado

qual um destino a seguir sendo algemado...

e ninguém viu.

Brotou a flor quase tão timidamente

a flor do campo que só tentou ser diferente

e ninguém viu.

Mais uma vez ele seguiu com pés descalços

seu verso triste num poema de percalços

e ninguém viu.

Desceu ladeira, de infância abandonada

na vil história toda ela maquinada

e ninguém viu.

Cruzou uma bala a todo o lixo amontoado

por dentre ratos de colarinhos engravatados...

e ninguém viu.

Um violino logo então soou no palco

A flauta mágica frente a tanto rescaldo

Ninguém a viu.

A voz patética se ensoberbou vaidosa

e fez promessas todas elas indecorosas

e ninguém viu!

Então Jonh Lennon relançou o seu "Imagine"

aos "litlle dreamers" de tantas vidas inertes

e ninguém viu.

Seguiu o cara de intenções enraizadas

das liberdades às corrrupções encapuzadas

e ninguém viu.

A passarada na floresta devastada

do Uirapurú, já debandou da invernada,

e ninguém viu.

Secou o rio...até seu leito foi furtado!

E o São Francisco foi morrendo amargurado

E ninguém viu.

Morreu a paz pelas estradas esburacadas

Secou a fonte da esperança abençoada

e ninguém viu.

Alguém morreu como se morre todo dia

Vindo do ontem ao amanhã sem alegria,

E ninguém viu.

Todo cenário se perdeu da sua história

já sem meada ao meio fio da vida inglória...

então partiu

E ninguém viu.