CORTEJO AFRO, ÁGUAS DA VIDA

Águas da vida

Miguezim de Princesa

Eu quero me molhar na passarela,

Porque hoje é dia de calor.

Se eu canto o canto é pra vida bela

As águas das lágrimas vêm sem amargor.

A minha tristeza é sem pesar,

Não digo a causa da minha alegria.

A festa é hoje e, se o amanhã chegar,

Digam que eu saí sem fantasia.

A água é parca em tanto mar,

Quem dera logo o Brasil chegasse.

Angola é distante, é só chorar:

Muchima dói sem mãe que o acalentasse.

Na dança da perpétua travessia

Morro de sede de beber justiça,

Água salobra da minha agonia,

Vinagre do meu cálice de injustiça.

Na escuridão do porão negreiro,

Somente a fé a me iluminar:

Cortejo Afro me banhando inteiro

Na festa em que senti me libertar.

Tanta água me banha a Bahia:

Kyanda Angola, mama Yemanjá,

Cortejo Afro, águas de poesia,

Bará Ajelu, Oxum e Oxalá.

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 09/07/2015
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