SENIL SOLITÁRIO

SENIL SOLITÁRIO

Marcos Bilac

DEDICO-TE: (PAULÃO) - MORADOR DE RUA, QUE MORA EM ITAQUERA...

Um senil em seu tempo perdido

Falido pelos dias faltantes no calendário

E uma época em que a poesia nascia

Numa velha árvore envelhecida

Esperando o cortar das raízes.

Esse senil conhece as letras afiadas,

Pois nunca finalizou os estudos,

Esse senil sentado, como fosse um assento,

Ficam horas e horas pensando.

Eu seu encurtado mundo criativo

Se perder no delinear das páginas criadas,

Em um papel amarelo e velho

Saiba que a chuva chorou em todas elas.

A senil plantada como fosse uma árvore velha

Em seu lugar sentimental e judicial

Escrevendo linhas do tempo.

Só de tal modo pode sonhar

Com a sua única riqueza.

Usa como uma mesa às pernas curtas

Deixada nelas papéis usados e jogados

Ele investe em seu saber anseios de poesias

São essas coisas que lhe fazem viajar.

O senil não conhece castelos e mansões por dentro,

Pois o seu viver nasce pra quem quer ver

Nas ruas e avenidas a escolher,

E vende o medo nas escritas.

Desse modo possa ser feliz, afinal,

Escrevendo sobre a velocidade e a calma

Encontradas na corrida contra o tempo

Mostrando que podemos também voltar a se alegrar.

Parado, ele olha todos os carros ferozes,

Vendo pessoas a olhar com medo dele

E foge sempre a notar sem parar,

Não se preocupe com o avaliar

Ninguém vai ainda chorar.

Se você quer conhecer o senil solitário?

Ande com passos lentos e valiosos

E perceberá que há mais que uma pessoa

Vestida com retalhos secos e morridos.

Esse senil a vida é esquecida e lançada pra fora,

Pelas mãos de um pai, de uma mãe que lhe der à luz,

Pois não existem papéis registrados em cartórios.

Foram queimadas juntas com sua vida.

Assombro por observar o senil solitário

E olhar seu rosto descorado e quebrado,

Pelo sol que traz chamas quentes do dia

Demolindo em marcha demorada a sua vida.

Note que o senil nos ensina a velha história

Nunca devemos negar o perdão e o amor,

Pois qualquer pessoa que tenha muito valor

Jamais fará a demolição do coração.

Pois a mente destrói e constrói castelos

E o coração é à força da união

Que leva até a arte do amor

Que pela mão abraçada

Faz nascer à emoção.

Agora, não tenho tanta presa, por favor,

Tome do seu tempo segundos,

Olhe bem esse senil sensato,

Pare no tempo dele fugido,

Note em seu olhar sofrido

E entenda que resta ternura.

Para não se esquecer do feito hoje,

Pegue na mão do escritor dele,

Por algum segundo desconhecido,

E notará a sua extraordinária alegria restante.

marcos bilac
Enviado por marcos bilac em 06/07/2015
Código do texto: T5301884
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