DESUTOPIA
Já perdeu-se a utopia!
Decantou-se em agonia
No palanque das orgias.
Num lamento em redenção
Mascarou-se a podridão.
-Utopia é o pão!
Sobre as vítimas enganadas
Neovítimas descerebradas
Nas vielas malfadadas.
Utopia da desgraça!
E o projeto que morreu,
Não é dele e nem é meu!
Utopia é refém
Nessa terra de ninguém!
Pensamento em contrário?
Vil chicote ao mandatário.
Nas calçadas dos destinos:
Desespero e desatino!
A palavra esvaeceu
Toda lei se enfraqueceu,
O sonho empobreceu
O horizonte anoiteceu.
E a sagrada utopia?
Até ela apodreceu!
O direito foi furtado
O pão jaz todo mofado
Fome já sem patrocínio...
E o ancião nem foi menino!
Dentre um tiro de canhão
Tudo escorre pelo chão.
Na guerra silenciosa
Se artimanha a vil prosa...
A escorrer ao meio fio
O tempo e qualquer brio.
Voa a bala já perdida
Qual a utopia de menina.
Utopia de sucesso
Transformou-se em retrocesso.
No engodo proclamado
Nada mais a ser criado.
Vozes e risos malfadados
De atores endiabrados.
Soa o timbre maternal
Que apoia todo mal...
Sob as luzes do holofote
Que engole a todo pobre.
E no meio do fiasco...
Já se ouve o panelaço.
Utopia disparada
Nas vias das pedaladas...
Toda a terra então tremeu
Até o petróleo estremeceu.
Não há feijão, nem utopia.
A panela está vazia!
Não restou nem a utopia!
Aos palanques das orgias.
Sequer a vã filosofia
Que a vida prometia...
Só pairou desarmonia
A seguir-se a vil cartilha...
Da proposta relançada
No palanque da invernada:
-Que se cumpra a profecia
Utopia! a qualquer preço...
Mande-a ao meu endereço.
Utopia é o apreço!
-Se resgate a utopia...
Ante ao que se revele!
E depois muita poesia
A salvar a nossa pele!