A Balconista

A BALCONISTA
Miguel Carqueija




Eu sou uma balconista
e vivo com muita honra:
ter emprego é uma conquista,
ser pobre não é desonra!



Minhas horas hoje são
repletas de atividade;
de dia estou no balcão
e à noite na faculdade.

E assim no meu dia-a-dia
vou tomando condução,
vou lutando todo dia
pra garantir o meu pão.

Graças a Deus a mãezinha
me apoia em todos os atos
pois ao chegar, coitadinha,
só quero tirar os sapatos!

Mas depois que eu me formar
tudo vai mudar, mãezinha:
você vai se aposentar
porque eu vou para a cozinha!

Meu trabalho é cansativo
já que atendo freguesia;
é um ramo muito ativo
sem nenhuma mordomia.

Mas a todos eu atendo
muito gentil e cortês:
e a todos eu entendo,
eu amo a todos vocês.

Não devo me enganar,
freguês tem sempre razão:
nem posso me estabanar,
prejudicar o patrão.

Eu ganho pouco, é verdade,
faz falta um bom ordenado;
e assim por necessidade
o orçamento é apertado.


Sem o apoio materno
acho que eu ia pirar:
seu coração é tão terno
que me faz até chorar.

Ela faz minha comida,
lava e passa o que eu visto;
quero ajudá-la na lida,
ela não quer, não insisto.

Pois eu chego tão cansada
que o meu corpo pede cama;
e eu me sinto atazanada
quando começa a semana!

Mas Deus vai nos ajudar
e eu termino a faculdade!
Nossa vida vai mudar,
empenho a minha vontade!

Eu gosto da profissão
pelo que ela tem de útil:
trabalho com o coração,
não sou uma garota fútil!

Servir o meu semelhante,
atender uma avozinha,
sorrir a todo instante,
dando a compra à garotinha!

Falar com aquele freguês
que outra atendente não pensa,
que vem aqui mês a mês
isto é uma recompensa!

Conseguir ser popular
por ter o dom de sorrir:
é uma vida pra se amar
mesmo por muito exigir.



Queria que esta nação
desse um pouco mais valor
à profissão balconista:
damos nosso coração,
trabalhamos com ardor,
temos um pouco de artista!




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