Sobre Alberto Caeiro
Como não sentir-se em dívida com os olhos de Caeiro?
Como prestar-lhe a devida homenagem de gratidão? Como lembrá-lo?
Quando imagino a forma como Alberto Caeiro gostaria de ser pensado,
Meu cérebro se encontra em silêncio, minhas palavras se dissipam,
Tornam-se pó, ou névoa, ou coisa alguma. Elas se vão!
Se vão sob a luminosidade de sua real natureza: elas não existem.
Quando penso em Alberto Caeiro, não vejo um homem.
Seu póprio nome já se dissolveu serenamente logo após pronunciá-lo:
Não há Alberto Caeiro.
A melhor homenagem a Alberto Caeiro é aquela que não existe!
E não existindo, deixa em seu lugar o silêncio das coisas.
O corpo todo estremece, o coração se abre em verdade:
A verdade de ser coração e bater.
Mas já não há coração, nem corpo, nem palavra alguma.
Não há coisa alguma! Somente há! simplesmente é!
Alberto Caeiro foi!
E sua melhor biografia é a que nunca foi feita!