Sobre Alberto Caeiro

Como não sentir-se em dívida com os olhos de Caeiro?

Como prestar-lhe a devida homenagem de gratidão? Como lembrá-lo?

Quando imagino a forma como Alberto Caeiro gostaria de ser pensado,

Meu cérebro se encontra em silêncio, minhas palavras se dissipam,

Tornam-se pó, ou névoa, ou coisa alguma. Elas se vão!

Se vão sob a luminosidade de sua real natureza: elas não existem.

Quando penso em Alberto Caeiro, não vejo um homem.

Seu póprio nome já se dissolveu serenamente logo após pronunciá-lo:

Não há Alberto Caeiro.

A melhor homenagem a Alberto Caeiro é aquela que não existe!

E não existindo, deixa em seu lugar o silêncio das coisas.

O corpo todo estremece, o coração se abre em verdade:

A verdade de ser coração e bater.

Mas já não há coração, nem corpo, nem palavra alguma.

Não há coisa alguma! Somente há! simplesmente é!

Alberto Caeiro foi!

E sua melhor biografia é a que nunca foi feita!

Luc Silva
Enviado por Luc Silva em 29/04/2015
Reeditado em 30/04/2015
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