Elogio a um eloquente e simples Ubaldo
Oh ! Quem vai escrever para mim Ubaldo?
O Frota ou a Bruna Surfistinha?
A minha geração de 80 que tanto aprendeu com a sua de 40.
Quem fala tão bem de prosa, conto ou crônica?
Quem abastece de salitre mareado e áspero
as iludidas terras consumistas?
Filhos de Itaparica, Baía de Todos os Santos,
dos botequins de praça,
das conversas sobre a mulata,
todos os boêmios, cantadores, pescadores e prosadores
devem estar chorando a perda do escritor.
Expressão do caminho árduo e sofrido do negro.
Contradição entre o céu servil e o inferno barroco.
Eis que tantos vivas e ais dão ainda o povo,
não se sabe bem se por necessidade de oração,
por penitência de tanta servidão,
ou por vontade de esquecer o seu passado.
Obrigado Ubaldo !
pela estória que a nós foi negada,
pelos retratos falados de situações vexatórias
de brancos e pretos
ou de pretos e brancos,
que mesmo angustiantes e maldosas.
Não tão menos interessantes e
passíveis de reflexão pesarosa.
Ubaldo partiu para o lado dos que não distinguem o sertão do litoral,
o particular do social.
A figura de uma gente marejada,
canonizada numa linguagem forte.
Perenes e intrépidas,
como embarcações seissentistas,
naus lusitanas enfileiradas
em mares sem fim,
explorações a perder de vista,
marcas que cravejam as dificuldades,
as enfermidades sociais, e as carências
habitacionais vividas até
hoje pelos novos portugueses.
Ainda desejo esse direito de ler
um tipo de humor social sem prolixia,
um ar de maresia.
Longínquo, tão distante
como as primeiras terras da baía de Vera Cruz.
Assim como Gregório de Matos e padre Vieira,
Também encheu os folhetins humildes das baianas terras
com o áspero toque agridoce do humor exigente,
com o olhar místico e não despretensioso,
com a veia poética na política,
buscando a teia justa na injustiça.
Enfim, não se sabe se deve ser escrito para preencher linhas,
ou se as entrelinhas da estória é que nos chocam
e tem muito mais a nos contar.