JÁ PASSOU

Passou o tempo descuidado,

E a saudade...

Aquela toda sensação de eternidade,

Já passou.

Passou a nuvem

Que voou qual borboleta...

O canto lírico descuidado da trombeta

Que já soou.

O passeante, andarilho da estrada

Pelos seus sonhos abandonados na calçada

Também passou.

Passou o tudo disfarçado pelo nada,

Passou o vento invisível que devasta

A ilusão da realidade que sobrou.

Passou o mito da palavra

Mentirosa...

E a inverdade da lama preta oleosa,

Só se avultou.

Passou a mão que acaricia a orgia

Até a hipnose que fomenta a alegria

Já se passou.

Passou a hora da esperança

De outrora

Se foi o veio do verso que degringola...

Tudo passou.

Passou o peixe pela sina poluída

A engolir a água pútrida oferecida...

Passou a chama sob a qual a vida ardia.

Passou a flor, o passarinho, a revoada!

Das andorinhas que passaram assustadas

E toda a vida a debalde, passou calada.

Toda a poesia que cantava a liberdade!

Pelas algemas amordaçada é piedade

Sequer resiste pela rima que soou.

Passou o amor, pobre criança e seu sorriso

Passou o velho já cansado do destino

Que não passou.

Até a dor e qualquer nota de poema

Passou o açoite e cumpriu-se toda a pena!

Passou o silêncio pelo tudo que passou.

Passou a hora

De sequer se ir embora!

Soou o tiro ecoado na História

Que se selou.

Passou o mistério sem ter norte definido

E o sacrilégio de a fé se ter perdido.

Nada restou.