A Dona de Casa

A DONA DE CASA
Miguel Carqueija


Eu tenho de ser dobrada
pra tudo funcionar:
trabalho fora obrigada,
trabalho enfim no meu lar.

Na empresa eu passo o dia
e ganho o meu ordenado:
tenho tanta companhia
que até pego resfriado.

Mas vem o segundo turno,
tudo muda de figura:
não ganho horário noturno
e o trabalho é uma loucura!

Faço tudo na cozinha:
suflê, fetutine e quiche!
Se me ausento uma vezinha
recorrem ao sanduíche.

Cuido de filhos, cachorro,
de marido e até de gato:
quase que eu peço socorro,
me fazem gato e sapato!

Mas eu tenho que ser forte,
todos precisam de mim:
mulher luta até a morte,
sou uma heroína enfim.

É que eu gosto dessa vida,
pois trocamos nosso amor:
e me chamam de querida,
o que não falta é calor.

Já fui mal aconselhada,
que não devia gerar;
que eu era desmiolada,
que eu iria me estrepar.

Mas pra que o casamento
sem filhos para cuidar?
Ia acabar um tormento,
um ao outro aguentar.

Filho é traço de união
unindo o homem à mulher;
tendo a quem dar proteção
não é feliz quem não quer.

A prole nos dá alento,
nos une pelo carinho;
por isso nunca lamento
por ter o meu maridinho.

Porque uma família unida
e aonde impera o amor
é a melhor forma de vida
na alegria e na dor.

Se um dia nos visitar
a mais cruel provação
nós saberemos lutar
com a força da união.

“Amai-vos como eu amei”,
nos disse Nosso Senhor;
melhor que isso eu não sei,
este é o poder do amor.

Ó Deus, protege este lar
que é uma sagrada família:
que vivamos para amar,
sem nos desviar da trilha.

Termos crianças na casa,
que bênção mais precisamos?
Já me sinto até com asa,
e essa vida nós amamos.




(imagem clickgratis - atriz Mariana Rios)