MULHER DE BATOM

Todo dia é dia de ser.

Ou melhor: dia de se ser...

simplesmente um ser.

Meu ato de ser não tem nome:

É fato sem sequer sobrenome.

Dizem que sou mulher

-e acredito que o sou!-

Pelo acaso das determinações.

Paradoxo...

Porque não tenho lei,

não sigo código

não tenho siglas.

Não faço gêneros!

Sígo o meu estatuto:

Só não tolero absurdo.

Não tranque o meu pensamento

Ele se soltará ao relento.

Se sou mulher de sentido

É esse meu todo partido.

Ser mulher é ser sem dono

É resistir ao engano.

Mister é seguir a estrada

De afônica voz exaltada

Em cada nova alvorada...

Ingênua e determinada

Altruísta, mas algo assustada

Menina sempre emancipada

De alma doce, embalada

Na rima, forte aliada.

Pelo acaso das determinações

penso ser algo mulher mistério...

Não tenho uma hora pra ser,

Nem tenho decreto de ser.

Sou dia, tarde ou anoitecer...

Sou eu que desenho o que ser!

Um pouco travessa

Alguns revertérios,

Poesia às avessas...

Também verso cautério.

Dispenso palanques...

Aos meus dias de antes.

Não quero presentes

Só futuros fluentes.

Se sou mulher de batom?

É pleno Direito:

O de ser emoção.

E ao meu contento

Sou inclusive explosão!

Já no meu silêncio...

Doce revolução.