Impressões de um Poema

Ao poeta e amigo Benny Franklin.

"A madrugada

engole tua fala

em seco

o cão

rosna ao caos

poema vário

entre a orquídea

e o grito

fustiga

o outono

acaso sonhas

que, n'outro extremo do trópico,

desarquitetas uma estação

inteira?

Há Tempo incrustado

na ruga da palavra

e um coração em rebuliço

acredita mentir a morte

uma nesga,

miúda nesga,

de memória

da fluorescência da tarde

sobre as montanhas

há a tarde. E a tarde da tarde,

quem irá supor?

Ereto o prazer da fala

voraz o cheiro do esgoto

e como cereja sobre o bolo,

pinga-se demente no céu

uma primeira estrela

sem saber dos animais

que se lambem sob as sombras das árvores

em estranha gramática

mas teu vulto permanece alerta

teu agudo vulto assombra o mito

e arranha céus – não estes

cheios de estéril chumbo,

tua língua de fogo,

o vigoroso bolero, felino

teu verso bolina raivoso

as flores do sonho que se adia

e faz mover a engrenagem

de incêndios de que se vale o poeta

para consumir a vida."

Harley Dolzane
Enviado por Harley Dolzane em 05/06/2007
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