Impressões de um Poema
Ao poeta e amigo Benny Franklin.
"A madrugada
engole tua fala
em seco
o cão
rosna ao caos
poema vário
entre a orquídea
e o grito
fustiga
o outono
acaso sonhas
que, n'outro extremo do trópico,
desarquitetas uma estação
inteira?
Há Tempo incrustado
na ruga da palavra
e um coração em rebuliço
acredita mentir a morte
uma nesga,
miúda nesga,
de memória
da fluorescência da tarde
sobre as montanhas
há a tarde. E a tarde da tarde,
quem irá supor?
Ereto o prazer da fala
voraz o cheiro do esgoto
e como cereja sobre o bolo,
pinga-se demente no céu
uma primeira estrela
sem saber dos animais
que se lambem sob as sombras das árvores
em estranha gramática
mas teu vulto permanece alerta
teu agudo vulto assombra o mito
e arranha céus – não estes
cheios de estéril chumbo,
tua língua de fogo,
o vigoroso bolero, felino
teu verso bolina raivoso
as flores do sonho que se adia
e faz mover a engrenagem
de incêndios de que se vale o poeta
para consumir a vida."