Proseando com Pessoa, na esplanada do café A Brasileira  - Chiado, Lisboa


 
A Fernando Pessoa:


 

DESPIDO DE MIM 

Eu sou.

Primeira pessoa do singular,
na pluralidade que há em mim.

Nós somos.
Primeira pessoa do plural,
na singularidade que há em nós.

Entre o ser e o não existir,
entre o que sou e o que não sou,
há definidas linhas por definir,
qual manta de retalhos

remendada de mentiras sinceras,
costurada sem cerzir. 


Quantos anos tinha quando nasci?
Quantas vezes amei e odiei,
Com quantos olhos vi?
Quantas vezes ri e ao mesmo tempo chorei?
Quantas vezes da própria sombra me escondi?

Tantos, tantas... quantas as peles que vesti,
enquanto de mim despido,
na fenda da alma abriguei sensações,
a realidade dos sonhos,
dores,
amores,
ilusões...

Mas ainda ouço passar o vento;
e só de ouvir o vento passar,
valeu a pena ter nascido.

 
Ana Flor do Lácio
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 13/01/2015
Reeditado em 13/01/2015
Código do texto: T5100468
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