MANOEL DE BARROS...
Se eu pudesse ser poesia,
seria a de Manoel de Barros.
Toda torta, meio suja, mas encantadora!
Eu seria deserto e abandono,
ermo e pequeno; decerto falaria
com os pássaros, monturos e rios.
Nalgum dia, amanheceria árvore…
Adormeceria pedra e renasceria chuva!
As garças trariam o escuro para acender
os vaga-lumes, a lua muda encantaria o mundo!
Depois, bem depois, seria de novo criança a
brincar em meio às coisas miúdas da terra…
As lesmas e as formigas ficariam de ciúmes
de mim por me dar tão bem no mundo delas.
Vestir-me-ia de árvore e os pássaros viriam
acasalar nas minhas asas verdes e frondosas!
Eu seria abastado para a poesia, tudo seria verso,
As borboletas me fariam uma boa sombra de cores.
E toda noite seria de abril; e toda noite a lua abriria
sorrisos; me faria a poesia mais feliz que já nascera!