DESGOSTO DIVINO
PARA MEUS IRMÃOS, OS NEGROS.
DESGOSTO DIVINO
Escorria pela face o suor do negro,
Enquanto o sangue já brotava de seus pulsos.
Seu peito arfava e seus tristes olhos
Embaçavam-se com lágrimas, vendo vultos...
Apiedavam-se os outros, vendo no tronco, o coitado
Que injustamente seria açoitado!
Gritava o carrasco: "_ Que sejam tantas as chibatadas,
Que, para exemplo, esse negro não mais se levante."
E, quando o senhor chegou, como um rei, em seu cavalo,
O negro, fitando-lhe os olhos, desesperado,
Transmitiu tanta amargura no olhar,
Que acabou, assim, por irar o senhor, ainda mais...
_ Misericórdia sinhô! - num fio de voz implorou -
Tenha piedade dessi véiu negro,
Que sempre o serviu, com fieldade.
Jamais voltarei a contrariar o meu sinhô;
Tenho meus filhu para criá,
Embora elis lhe pertençam tanto!...
Mas o senhor impiedoso olha o carrasco,
E com um aceno, faz cair as chibatadas;
Até que morra mais esse miserável!
O céu, então como se chorasse,
Derrama das nuvens escuras,
Uma chuva fina e piedosa!
O negro foi jogado na mata,
Para que servisse de alimento aos animais,
Até que lhe sobrasse apenas a carcaça...!
Um Deus então, vem a socorro
E em seus braços levanta o dono
Da profunda angústia que lhe aflige a alma.
_ Que caiam do céu as estrelas!
Que o sol e a lua não iluminem mais;
Que mergulhe na escuridão, esse amaldiçoado mundo!
E olhando o cadáver, transformou-o num anjo,
Fazendo assim, com que voasse... e voasse tão alto,
Que Deus aliviado, olhou em volta e só viu o negro...
Nada mais o torturava. Estava feliz potanto.
Livre do mundo, era tão puro aquele homem,
Que era um verdadeiro exemplo de sua obra.
Concluiu Deus, então: _ Foi melhor assim:
Carrasco por carrasco, prefiro a mim...
Senhor por senhor, prefiro eu!!!