AINDA ASSIM, NESTA ANESTESIA




Ainda assim, nesta anestesia
das coisas todas em mim
- amanhã melhoro, não te preocupes,
sempre urge sobreviver-me
urge sempre


Como dizia
nesta anestesia que me toma
a vida sem carne
descarnada, que é a minha


ainda assim te trago
uma palavra de doçura
como um ramo
de verde folha
no bico de um pássaro


ainda assim como estou
e sabes, sei que sabes
que não sei ocultar direito
de ti, de mim, de ninguém


este cansaço que me ultrapassa
que me toma como o mais ardoroso
dos amantes
este cansaço


dos mundos
de mundos
em que já não posso ser nem estar...


Se sabes, compreende
o pouco ou o muito que saibas
tu, viajante dessas viagens
também viajante...


Quantos nos sabem, deveras?


Minha palavra ferida
de cansaço
nesta vida inerme
quase inerte
de cansaço


Esta vida que pouco sabe já
de si, de outras vidas
vem, esta minha vida
ainda vida
saudar-te
com a vida que consegue


assim cansada
assim anestesiada
na noite
que ainda vai pelo meio...


saudar-te... vem...
saudar-te...
ela vem...
saudar-te...



 
DE PRIMEIRA, NESTE AGORA MUITO PERDIDO DE SI MESMO. ISSO MELHORA, MAS, AGORA ESTÁ ASSIM. BEM, EIS O PÁSSARO A QUE ME REFERI. EI-LO.
BOA NOITE, AMIGOS MEUS.