Herança

São tantas lembranças que guardo

Quantas as dores que tenho

Em risos passados me encontro

De olhos fechados me empenho

Observando o passado

História que me escreveu

Madeira do meu calado

E as velas que Deus me deu

Tantas saudades que sinto

Quantas horas insone fico

Antes de, enfim, não minto

Chorar entre os sonhos, aflito

Acordo com a mão para o alto

E, se o teto concreto não alcança

Que dizer do tempo, o regato

Onde banhei minha infância

Tantos sorrisos guardados

Quanto as marcas que venero

Sinais, lembretes, recados

Colados ao corpo que altero

Por armazenar tanto brilho

Gargalhadas e cicatrizes

Cambiadas, ó pai, por teu filho

Em tantas memórias felizes

Tantas palavras severas

Quantos alívios senti

Pois, mestre de minhas feras

Em cuja sombra cresci

Qual Atlas da mitologia

Erguendo o céu de ilusões

Que, sem tua força, cairia

A me privar das lições

Tantos os dias no ano

Quanto o que me sorriu

Viu graça no meu engano

Chorou comigo e caiu

Nos erros da minha autoria

Por não me deixar vacilado

Não se poupava, fingia

Vivendo a lição ao meu lado

Tantas críticas te fiz

Quanto sal há no mar

Não resiste o aprendiz

Ao seu mestre castigar

É, pois, tão fácil dizer

E, depois, se afastar

Quão mais verdadeiro é colher

E auxiliar no plantar

Tanta gratidão me vem

Quanto ventos a soprar

E sinto-me, ainda, aquém

De teu aspecto solar

Sou lua da tua luz

E o mais feliz dos espelhos

Pois meu viver se traduz

Em teus belos olhos vermelhos.

Gabriel Aquino
Enviado por Gabriel Aquino em 11/08/2014
Reeditado em 20/05/2015
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