AOS CAUDILHOS

Com licença Vacarianos

Pra prestar esta homenagem.

A esse chão de boa pastagem,

Maçã, trigo, feijão, milho.

Meu pingo desencilho

Pra soltar na invernada

E embaixo duma ramada

Quero escutar OS CAUDILHOS.

Um presente que ganhei

De meu primo-irmão Reni,

Foi quando passei por ai

Numa volteada ligeira,

Deu-me até tremedeira

Quando olhei a capa do LP,

Vejam quem meu olhar vê

Grande Deoroci Silveira.

E desculpem-me os demais

Componentes do conjunto,

Ao tratar desse assunto

Referir-me somente a um,

Pois não conheço nenhum

Dos outros, pessoalmente,

Mas é um chasque decente

E sem preconceito algum.

Linda é a MENSAGEM CRIOULA

O pago, a gaita e a chinoca,

Tudo que ela nos evoca

Já na estrofe primeira.

Na segunda: hospitaleira

Lembra: colegas, Tradição,

Canto, culto e evocação:

No chiar da velha chaleira.

"Esta Querência tem dono"

Nunca é demais relembrar,

Ainda hoje se sente ecoar

De Leste a Oeste, Sul a Norte,

Nosso mesmo brado forte

Nas notas de sua canção,

Reavivando a Tradição

E a vida vencendo a morte.

Renasce em cada palavra

E compasso da canção,

A humildade e vibração

Dos Bertussi: Honeyde e Adelar,

Mesmo modo de cantar

A raça de nossa gente,

O mesmo tom plangente

Pelo pampa a recruzar.

RETOVADO: que chotes!

Que beleza, que magia,

É a velha confraria

Do Rio Grande ensalonado,

No rodeio engalanado

Em A GRAMA É O LIMITE,

O desafiante convite:

Ao peão, cavalo e socado.

Na altivez do vencedor

Ou humildade do vencido,

O mesmo jeito atrevido

Olhando o mundo por cima,

Entoando estranha rima

De vencido e vencedor.

Clovis, Rui e João o cantor,

Homens de valor e estima.

E "QUANDO SOPRA O MINUANO "

Do grande Barbosa Lessa,

Sinto voltar à promessa

Nosso pago se enfeitando;

Muitos pares se agitando

No BUGIU DO TIO FELIPE,

Deoroci, João, a estirpe,

Do meu Rio Grande cantando.

E na SAUDOSA LEMBRANÇA

Do João Maria e Chiquinho,

Lembra a rosa sem espinho

Na cadência do valsado.

O chiru nobre e entonado

"do andar a pé, da pataca,

BOTA DE FOLE, REBENQUE

E GUAIACA" relembro o passado.

Rememoro o gaúcho autêntico

Dos tempos de antigamente,

Que a evolução do presente

Surrupiou meu companheiro,

E aquele entono campeiro

É novidade ao se ver,

O mesmo estranho prazer

Duma noite de aguaceiro.

Na MELANCOLIA CIGANA

A classe do dedilhado,

Outro lindaço valsado

Que nos faz um sonhador

Vaga-lume piscador

Nos RECUERDOS DA VINTE E OITO,

Pingo orelhano e afoito

De maula derrubador.

No tranco do MATE AMARGO

Movimentada rancheira,

Lembro da prenda faceira

Dedilhando encabulada,

Numa acordeona surrada

As notas atropelando,

Ia aos poucos me mostrando

O rumo da nossa estrada.

João Maria e Clóvis Finger

Dois grandes compositores,

São renomados condores

Rimando EU E A CORDEONA,

De notas ressongonas

Na direção do infinito,

Tenenciando o índio proscrito

Solitário sem sua dona.

Encerrando o lindo disco

BRINCANDO COM OS BOTÕES,

Repinicados tirões

Dum vanerão bem marcado.

Encerro este meu recado

Saudoso de nosso pampa,

Trago na retina a estampa

Do Rio Grande idolatrado.

Vacaria-RS, Verão de 1994.

Tapejara Vacariano
Enviado por Tapejara Vacariano em 30/07/2014
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