Herói do sertão
(ao jumento que servia na Timbaúba, onde me criei
e a todos os "escravos" deste Nordeste)
O jumento é como um escravo
tudo o que fez, nada te sobra;
O homem carrasco, de bravo
terás ouvidos a quem o cobra?
Na seca, na fome, e no cansaço
Era o companheiro do campo,
sempre carregado de manto
Nunca reclamou de fracasso...
Transporte de carga do sertão
cangalhas, ancoretas e sela,
Levava lenha, abria cancela
Sabia do caminho ate o oitão
Chegando, dava um suspiro profundo,
Baixava a pestana esmorecido
Esperando o dono compadecido
despejar a maior carga do mundo...
Oh como não sentir saudade,
Como não lembrar da teimosia
Baixando a cabeça, porque queria
uma rama verde,neguei-te a liberdade...
Tua velhice, desamparada
o pobre magro trumbicando,
Dormia em pé, e foi ficando
Sem apetite para a vida amargurada
E num dia desses em que alguém
Te deu conta, desapareceu;
e lá no fim da roça morreu
Lá onde não se passa ninguém...
03 de julho de 2014