AMARGOSA...

Amargosa se localiza no Vale do Jequiriçá,
entre o recôncavo e o sudoeste baiano,
nem tão perto, nem tão longe da capital.

Lugar farto de passarinhos, animais nativos,
frutas, legumes e verduras, produtos de laticínio
e de prendas caseiras, além de felicidades....

Sobretudo, na culinária de doces e tapiocas...
Rios, córregos, caldeirões, cascatas,
represas naturais e artificiais...

Lá eu fui feliz e nem sabia!
As primeiras namoradas,
meus sentidos de alforria e euforia...

Ali onde aprendi a nadar,
a andar de bicicleta,
a confeccionar e a empinar arraias e periquitos.

Eu que até então vivia confinado em apartamento
e sem direito a um palmo de quintal.
Tínhamos quintal no prédio, mas era-nos proibido.

Dos passarinhos, lembro-me bem do sete cores Saíra,
do Coleira, do Canário, das rolinhas Fogo-Pagou,
de Cardeais, Periquitos e Papagaios...

Os que prendíamos em alçapões dos coracoes,
ou os comprávamos no meio da feira
de todo sábado sem repressão nem bobeira...

E lugares que meus os olhos registraram lindos:
A Estação Ferroviária num éden chamado Bosque
onde apeei do cavalo de ferro, num dia do ano de 1957...

Após uma inesquecível prazerosa
e cansativa viagem numa Maria Fumaça
movida à lenha, desde São Roque.

Ali, pegava-se a locomotiva
até Nazaré das Farinhas,
e, após a travessia marítima da Baía de Todos os Santos.

Baldeávamos, então para outro trem
com destino a São Miguel das Matas,
e, enfim, até Amargosa, fim de linha da ferrovia...

Com direito a vira-mundo
e esse, para que a máquina propulsora
das classes manobrasse 360°.

E, novamente fosse direcionada ao retorno à capital.
Lembro a música cuja autoria não registro,
mas, que é uma gravação do nosso

maior músico de todo o norte e nordeste,
quiçá, de todo o Brasil, Luiz “Lua” Gonzaga
que assim se cantava;

“O trem danou-se naquelas brenhas soltando fogo,
comendo lenha, comendo lenha e soltando brasa
tanto queima como atrasa...”

Marcou tanto essa viagem
que durante algum tempo,
de noites em madrugadas...

Inda passei, escutando e sentindo
o apito e o sacolejo do trem.
num balanço que fazia bem.

Antes do trem,
gente tinha hora marcada
pra sair de Salvador...

No vapor João da Botas, tudo bem,
mas, não tinha horário certo
pra se chegar em Amargosa, de trem.

Durante o trajeto podia acontecer de tudo:
Descarrilamento, muita chuva que assustava,
calor intenso, novas amizades e grandes bate-papos.

Não tinha assalto, isso ainda não tinha.
Tinha garapa de caldo de cana e bolachinha de goma,
tinha cachorro-quente frio .

E aquela sensação de que já havíamos passado
por tal experiência noutras viagens,
através dos telões do cinema em filmes de bang-bang.

Cada estação, uma parada, um estanque,
pra abastecer com água e lenha.
Na mente era evidente a sensação de que nunca chegaríamos...

Haja vista, a ansiedade do chegar.
Tudo era novo em termos de vivência
naquela rica experiência.

Foi à noite, tarde da noite...
Palavra que minha imaginação,
embora de criança, logo admitiria:

Amargosa - adjetivo feminino de amargoso?
Porém, também, o sentido de que, quem amar goza.
E é pra lá que eu vou.

Vai ser bom, vai ser ruim?
Desde sempre percebi Amor, Poesia
e inspiração em mim e eu me perguntava...

E a mim próprio eu respondia:
Inferno, purgatório ou céu?
Travei conhecimento com a felicidade da alegria!

Amargosa foi tudo de bom...
Tornou-se infinita enquanto duraram
os meus melhores momentos da infância...

Resgatando tudo aquilo que até então
eu já havia perdido, antes de Amargosa
Sem dó nem tolerância em redundância!...

Linda e doce Amargosa!
Cidade de clima aprazível
Dedico a ti um Amor incrível.
Antonio Fernando Peltier
Enviado por Antonio Fernando Peltier em 14/05/2014
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