Aquele Feijão com Arroz ou APC
Quando chego do batente,
Já com cara de doente,
Ela péga e vem pra frente.
Espera o que vou falar.
Como sempre, eu me lamento:
O salário é um tormento
E o bendito do aumento
Pouco vai nos adiantar.
Ela diz que é isso mesmo.
Traz correndo o torresmo,
‘quanto eu fico andando a esmo,
Querendo desabafar.
Ela então, com sutileza,
Diz que é para eu vir pra mesa;
Que eu me esqueça da despesa
E procure me alimentar.
Na cozinha, a frigideira
Faz tremenda barulheira
E eu insisto na besteira
De ter o que reclamar.
Ela explica, com cuidado,
Que é melhor deixar de lado.
E me aponta o ensopado
Pra comer, se não vai esfriar.
Então, já sei que concordar
Será melhor para nós dois,
Mesmo porque só quero agora devorar
Aquele bom feijão com arroz.
Rio, 27/10/1977
(homenagem do autor a Alice Pereira da Costa, sua mãe)