Ao Ser

Dedico esta humilde poesia ao Ser

Óh Ser, tu és o eterno desconhecido e de ti nada sei

Ao mesmo tempo, tantas lendas e mitos e escritos

Têm sido multiplicados, mesmo que sentimentalistas

Sobre o teu agir, teu sentir, ter fazer e teu criar.

Mas sinceramente, não vejo eu a ti como pessoa

Nem mesmo uma pessoa boa ou má, ou egoísta!

Nem mesmo oro a ti manifestando meu querer

Sujeito à minha pobreza, minhas faltas e meu dever

Se algum dia te ofendi, não foi intencionalmente

Mas sinceramente, não consigo ver-te como pessoa.

Para mim, tu estás tanto no bom, quanto no mau

Tanto no puro quanto no impuro, aqui e agora.

É praticamente impossível para mim compreender-te

Apesar de saber que tu estás em mim e eu estou em ti

A ciência revelada aos mais sublimes homens veio de ti.

Mas ainda assim, sinceramente não vejo-te como pessoa.

Tu és a causa do bem e do mal, tu os usa incessantemente

Tu és o próprio bem e o próprio mal, tu revelas o belo e o feio

Semelhante a uma teia que vela e revela uma aranha

Assim são as representações que eu mesmo faço da natureza

Natureza essa que ao mesmo tempo te oculta e te revela.

Essa eterna esposa com seus eternos perfumes simplórios

E ao mesmo tempo, com uma complexidade indefinível

A simplicidade mostrada no nascer e no morrer para mim

É uma verdade que mostra aparente antagonismo

Como as expressões mais decididas daquilo que tu podes ser.

Óh Ser, eterno e sempre jovem Ser! Para além dos existires,

Para além das coisas mais belas que meus olhos podem ver

Que minhas mãos podem tocar, que meu nariz pode cheirar

Que meus ouvidos podem ouvir e que minha língua pode provar...

Nem mesmo minha inteligência é capaz de abranger o infinito

Que é um aspecto sereno e forte da tua divindade.

Mas ainda assim, não te vejo como uma pessoa.

Nem um, nem dois, nem três! Como pode o infinito ser dividido?

Portanto, qualquer expressão captada pelos meus sentidos

Pode me iludir a respeito do que é belo ou feio, ou falso e verdadeiro

E por isso não procuro a ti, Ser, lá fora, nos templos, ou nos céus.

Sei que o teu Ser está em toda parte, e tudo está em teu Ser.

Por isso é conveniente que tu ilumines minha intuição.

Vários poetas quiseram pintar teus atributos, tuas qualidades

E para eles as qualidades correspondiam às qualidades humanas.

Entretanto a mim, tu és imanente e transcendente,

E é por isso que o universo é infinito e tu nunca serás provado.

Pois tu és um eterno Ser, eterno pois para ti só há o presente

Entretanto ainda um tempo mais eu tatearei nas trevas

Até que finalmente eu me una a ti novamente

E tu e eu possamos ser como duas faces da mesma moeda.

ícaro Clarêncio
Enviado por ícaro Clarêncio em 29/04/2014
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