AO MEU FILHO(A) QUE VAI NASCER-1 - 2

um resto de esperança para com a humanidade, e foi assim que surgiu o poema.

AO MEU FILHO QUE VAI NASCER

( Celismando Sodré – Mandinho- 09 de 1994)

Meu filho vai nascer...

Em um pequeno planeta azul,

Que localizado no sistema solar

Dentro da Galáxia da Via Láctea,

Pede socorro quase agonizante,

Aos pais e filhos da atualidade

Para que as futuras gerações,

Tenham direito de usufruir

Das espetaculares condições de vida,

Que ele generosamente oferece.

Oxalá ele não chorará como os filhos de Hiroshima

Que derramaram o sal e a dor de suas lágrimas

Na terra fértil e incrivelmente bela,

Onde seus pais e avós plantaram e colheram

Os frutos, alimentos para a sobrevivência

Sorrirá sim, com um sorriso compreensível e puro,

Dos poemas pessimistas e apocalípticos

Sobre bombas, guerras, divisões e violências

Escritos pelo pai, aprendiz de poeta,

E pelos grandes poetas do século vinte.

Tomara meu filho não seja xenófobo

Não defenda radicalmente países e dogmas,

Não seja do terceiro ou do primeiro mundo,

Mas seja sim, um cidadão do planeta

Engajado na luta pela preservação da vida.

Nascerá e não servirá exércitos de armas

E sim o verdadeiro exército da paz,

Porque ele e seus contemporâneos,

Buscarão resolver os impasses existentes,

Os obstáculos para o crescimento de todos

Não só material como humanitário e espiritual,

Através do diálogo e da força conjunta

E terão uma mentalidade diferente

De certos dirigentes tiranos desta época

Com seus conflitos idiotas e mortíferos

Meu neto também vai nascer

E espero que meu filho não tenha tanto medo

Como estou tendo agora,

E se meu filho ou meu neto

Por incoerência não tiverem que nascer,

Ou se nascerem com as mesmas guerras

Bombas e destruição da vida no planeta,

Eu e eles lamentaremos pela estupidez dos homens

E estes versos foram mais uma das minhas utopias.

OBS: “Que meu filho, hoje com onze anos,

Viva num ambiente mais saudável e fraterno”

Dez anos havia se passado, minha esposa estava em sua segunda gravidez, que foi muito complicada com relação à primeira. Tivemos que partir urgentemente para Salvador, por que o quadro tinha se complicado e os recursos da minha região não eram adequados. Chegando na capital, depois de fazer alguns exames, ela foi imediatamente encaminhada para o Hospital para a retirada da criança; as duas correndo risco de vida. Foi um parto prematuro e complicadíssimo.

Deparei-me com a possível e dolorosa situação de perder duas pessoas queridas de uma só vez que iria modificar totalmente meu destino. Cheguei a imaginar que seria uma carga pesada demais e que não teria condições de suportar, eu pensava no meu outro filho e isso me dava uma energia extra. Mas, as forças divinas conspiraram a nosso favor. Minha esposa suportou com uma firmeza e uma fé que só se ver nas grandes mulheres. Passei a admira-la ainda mais. Dizem que a natureza é sábia e só as mulheres suportariam certas provações, inclusive a dor do parto, da reprodução.

Minha filhinha nasceu muito abaixo do peso normal; quando a vi pela primeira vez no Neo-natal, ligada a todos aqueles aparelhos e tão indefesa, temi pela sua sobrevivência. Lembro-me que num certo momento, olhando para minha esposa adormecida na cama do hospital após aquela provação que nos deu uma recompensa que não tem preço, assistindo ao jornal na TV, estava lá, quase que exatamente do mesmo jeito: desmatamento na Amazônia, poluição do rio Tietê, conflito violento entre Árabes e Israelenses, violência e miséria. Atentados terroristas agora na Irlanda. Viajei no tempo; há dez anos atrás e lembrei do meu filho, daquela preocupação que inspirou o poema anterior, “Ao Meu Filho que vai nascer”. Uma década ocorrida e parecia que estávamos assistindo ao mesmo filme.

Pensei na minha criaturinha tão frágil lá no Neo-natal ligada a todos aqueles aparelhos, maravilha da nossa tecnologia que salva vidas, a parte positiva da inteligência humana. Pensei na sua mãe tão corajosa. Surgindo assim um novo poema...

A MINHA FILHA QUE VAI SOBREVIVER

( Celismando Sodré - julho de 2004)

Minha filha vai sobreviver...

Se for da suprema vontade divina

No mesmo e especial planeta azul

Onde seu irmão nasceu, dando seus primeiros gritos

Há pouco mais de 10 anos atrás

Num ambiente de guerras e conflitos.

Sobreviverá no planeta que continua pedindo socorro

Clamando pelo uso da sabedoria humana

Poluído, sufocado e repleto de miseráveis

Diante da sede de consumo e de capitais

Demonstrado por certos homens torpes e insaciáveis

Sobreviverá em um mundo de intolerância

De ódio racial, cultural e religioso

Espero que ela cultive a compreensão

E não se ache nunca dona da verdade

Torço para que o crescimento do seu saber

Seja proporcional ao crescimento da sua humildade

Espero minha filha não siga líderes

Sem submeter suas idéias e atos

A uma rigorosa e profunda reflexão crítica

Que ela veja o mundo, os fenômenos e os conceitos

Analisando-os pelos diversos ângulos possíveis

Que não se apegue a nenhuma forma de preconceito

Quem sabe o futuro que virá pra minha filha

Seja mais harmônico e sereno

E se ela tiver de ler este poema

Cheio de incertezas e preocupações

Que ela assim faça compreendendo seu pai

Que viveu numa época de tumultos e privações

Tomara minha filha seja solidária

Usando sua inteligência para o bem comum

Formando uma grande corrente pela paz

Fazendo sua parte na defesa do meio ambiente

Despertando consciências adormecidas

Lutando por um mundo mais justo e coerente

Pode ser que o filho(a) da minha filha

Nasça num ambiente mais saudável

E ambos abrirão um velho livro de poemas

Lendo-o com entendimento e saudade

Analisando os temores e inquietações do pai...

E se minha filha e meu neto(a) não tiverem de sobreviver

Ou se sobreviverem com as mesmas e cruéis agonias

Estes versos continuarão sendo meras utopias

MANDINHO
Enviado por MANDINHO em 04/05/2007
Código do texto: T474358