Dona Neide
A face aveludada
pequena e serena
revela as marcas, as expressões
das durezas
das tristezas
das desilusões
das lamentações
das alegrias
das esperanças
das cantigas
da vida, vivida
no agreste
no sudeste
O primeiro amor não esquecido
do João, sapateiro
Aquele que passou a vida inteira
sonhando pra ser seu marido
Em lamúrias poéticas
conta, reconta
o real casamento
que findou em sofrimento
Os homens filhos
que tão cedo partiram
também partiu o varão
ficando apenas você
Mulher de fibra
de resistência
de resiliência
que no quartinho
rumina a vivência, a experiência
fazendo colchas, costurando almofadas
pregando pérolas coloridas
em quadrados
delicados
milimetrados
pelo tempo, o companheiro