ODE À MULHER NORDESTINA
No começo fora criada de um pedaço de costela
No descobrimento viviam já muito enfeitadas:
argolas pulseiras bugigangas e a parir
costelas boas e podres gordas e magras.
Em casa: costura limpa cuida da prole mais
que gigante e do marido machista irritante
No trabalho pra fora de casa: quebra côco
lava passa cozinha é vereadora advogada
até governadora, mas também prostituta:
despoja-se aos instintos sexuais porque
naturais e através dos quais procria e cria
Inventa paciência para manter seu pudor
tão despudorado pelos seus pares que pensam
serem eternos doadores de pedaços de costelas
É eleitora conquistadora e democraticamente
elegeu uma mulher presidente porque valente
Nos palcos vira atriz cantora e até nos Tribunais
tem ministra e uma negra Desembargadora
No começo fora feita da costela de Adão, sei não!
Mas desde Porto Seguro buscara Emancipação.
E são: Fortes Inteligentes Valentes Roceiras Policiais
Médicas Cantoras Promotoras Juízas Farmacêuticas
Prefeitas Pescadoras Pintoras Psicólogas
e tantas outras doutoras: Filósofas
Costureiras: Poetas: Varredoras de “dor” e de rua
Empregadas e Empregadoras, além de Inspiradoras de
Jorge Amado que fez nascer Gabriela Cravo e Canela e
de José de Alencar que fez por Iracema, a Virgem dos
Lábios de Mel, um certo Irapuã se apaixonar
Sinceramente!
Não sei do que foram feitas as mulheres no começo...
Eu sim sou fruto de uma barriga que ficou barriguda
E como até a Cebola fora exaltada por Pablo Neruda
E igual ao solo encantado ao receber a Neblina, nada mais
justo e poético que escrever uma ODE à Mulher Nordestina...