MANDELA ZUMBI
A notícia espalhou-se como vento.
De boca em boca, correu as senzalas.
Na casa grande - cozinhas e salas -,
nas igrejas, bares e conventos,
nos canaviais e acampamentos,
falava-se que o Rei fora dormir.
Virara espírito, bem longe daqui,
orixá, caboco, o quilombola.
Reza o feiticeiro, a alguém consola:
- Ressurge o Rei Zumbi, óia Zumbi.
Zumbi, Zumbi, óia Zumbi!
O canto encanto da ressurreição
balança a mata, sopra os palmeirais.
Ó neto de Aqualtune, onde estás?
Teu sonho é mais forte que o tufão!
Um Deus da guerra - raio e trovão -
não morre jamais. Volta à Nação
Nagô, a Angola da África, da magia.
Dono do mar, reme o barco da poesia
da luta até o céu da liberdade.
As ondas do mar te levam à felicidade,
quebrando as correntes da agonia.
Fim do século XVII, era novembro.
E, por mais que espalhassem em cada porto
a notícia de que Zumbi estava morto,
separado em cabeça, tronco e membro,
ninguém acreditava. Era dezembro
e danças, capoeiras, brigas,
rezas, santos negros, figas
davam forças pra lutar ao Rei da Guerra.
E os prantos que caíam na terra
vinham acompanhados de uma cantiga:
Zumbi, Zumbi, óia Zumbi!
E o som de mais de mil tambores
ecoou em outros continentes.
Confundia-se à quebradeira de correntes
e aos gritos de alegria, findas as dores.
Um aroma leve e bom de flores
que o rei trazia na lapela
inspirou Desmond Tutu numa capela
e ao povo se juntou Desmond Tutu.
Óia Zumbi, canta África do Sul!
Óia Zumbi, Óia Zumbi, Nelson Mandela!