Alma Multicor (A Juliana Tostes Solani)
Tristezas desfiadas no azul de Modigliani,
Esperanças mortas em riachos verde-musgo,
Ondulações negras de sonho em abundancia
Para taparem a raiz da riqueza dourada de teu ser,
Negas o Apolo que radias,
Afoga-se em Dionísio que te consome,
O olho de Horus a esquerda de teu busto
Vigia a vida torta que tu gostas, a perfeição canhota,
Derrete a neve que lhe envolve ruborizando
Com a cólera do vinho, encontra a paz
Na melancolia acinzentada das nuvens de tabaco
Que tua boca rege em música no ar,
Bebe teu café de angústias dividindo-o
Com as páginas dos livros amarelados
Envelhecidos como as reminiscências nostálgicas
De tua alegria familiar definhada pela loucura
Da normativa bestial da cultura, do senso insensato,
Da ignorante violência que nos tolhe
Por amarmos o que não podemos salvar.