Máximas da Fraternidade (Para o irmão natimorto)

Primeiramente, pergunto-te meu

intangível irmão:

És mais sortudo do que eu por não se debater com os vivos daqui?

Perdão pela pergunta tão retórica, mas não me falta curiosidade

– és ou não?

...

Saberei em breve, sou uma bolha próxima a uma atmosfera nova e cadavérica da superfície indecifrável

Como nos “primórdios” da humanidade, segundo as escrituras:

Eva e Adão

Da Árvore da Ciência, veio também a podridão ainda a nos nutrir?

Ai! do homem que parte com a sabedoria do fruto – atordoante como

um furacão

Um embrião enterrado nas indeléveis teias

do mar imensurável

Oh irmão, assim como tu

Despir-me-ei da carne, serei também nu

Com orgulho, nas lápides rubricarei um mero "aqui jazz"

Despeço-me das mães

Despeço-me dos animais

E emito um último suspiro de "até nunca mais"!

(Publicado, em 2014, no livro Reflexos da Lua Sobre o Sol)

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