Negra mãe

Negra da cor da favela

Da senzala

Que não tinha fala

Dos anos sofridos

Esquecidos

Carentes de amor

Só conhecia dor

E sobrevivia, lutava

Se entregava

Ao seu senhor

A negra do Brasil

Ou da Angola

Enfeitada de argola

Alegria nunca viu

Ainda assim, sorriu

Chorou de peito aberto

Escolheu errado ao certo

Foi humilhada

E descabelada

E ninguém chegou perto

Negra da pele rubra

Dos castigos

E dos mendingos

E mais quem lhe cubra

Descubra

É a mãe de milhões

Que negam seu quinhões

E vagam lugares mil

Interiores do Brasil

Nas matas e nos certões

A negra que amamenta

E seca o seu peito

Nunca teve direito

Mas sabe que aguenta

Fez do corpo ferramenta

Fecha os olhos e se entrega

Ela não renega

E sai fortalecida

De volta à sua guarida

Onde a fé ela prega

Negra que sabe sua origem

E tem orgulho do seu povo

Que faria tudo de novo

Cada absurdo que exigem

Mesmo lhe tendo vertigem

Ergue sua cabeça

Roga pra que não esqueça

Essa sua condição

De mãe de uma nação

Mesmo que não pareça

A negra que já sofreu demais

Nenhuma branca aguentaria

A primeira choraria

E já pediria a paz

Mas a preta perspicaz

Conhece bem seu valor

E vai além do seu torpor

Pois ela gerou o mundo

E num ritmo tão profundo

Fez bater o seu tambor

Walter Gandarella
Enviado por Walter Gandarella em 13/03/2013
Código do texto: T4187048
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