QUE ÉS, AMOR?
Que és, amor?
Zéfiro que nos prega trotes pueris,
Que nos desfralda, rindo, as distraídas velas,
E faz singrarem ao mar as caravelas
Do coração de quem procura ser feliz.
Que és, amor?
Se brando, envolve-nos em quimeras,
Mas agigantando-se para vendaval
Arrasta à casa de Neptuno a nau
Quando o desprezo nossa alma vitupera.
Que és, amor?
Mandrágora de todos os amantes,
Fortalece a virtude dos desejos
Que a saciá-lo colhi, em vão, mil beijos,
Pois dele mais senti animação constante.
Que és, amor?
Lume de Piro que incendeia a noite
Febre terçã, entorpecente da razão,
Se nos embriaga na chama da paixão
Queima-nos suas labaredas com açoites.
Que és, amor?
Aquarela que nos chega como espetáculo,
Pelo qual se amansa a mais terrível fera
Que nos translada sutilmente à primavera,
Estação de rama e flor, borboleta e prado.
Que és, amor?
Quis eu dizer-te por humildes versos,
Mas como o saberei se não conhecê-lo?
Teu sorriso me basta para, então, vivê-lo...
Para crê-lo, um beijo... para tê-lo, um gesto.