A Saudosa Boemia Ilustra o Recife

Boêmia república,

Dos anos de outrora,

Tecida de claridade,

Recife sonha ao luar,

Lendária e heroica cidade,

Plantada à beira-mar.

Entre os anos de 50 a 60,

O brilho aqui iluminou,

Peles sedosas e aquecidas,

Refesteladas de vigor,

Numa vida de carícias,

De nostalgia e amor.

Ruas asseadas,

Castelos advindos do prazer,

Damas da noite,

Poetas e cantores envaidecidos,

Para muitos, vida de enganos,

Para uns tantos, veredas do amanhecer.

Nesta época Nelson Gonçalves foi rei,

“Boemia, aqui me tens de regresso,

E suplicante te peço a minha nova inscrição.

Voltei pra rever os amigos que um dia,

Eu deixei a chorar de alegria,

Me acompanha o meu violão”.

Recifense nato,

Orlando Dias se destacou,

Com seus boleros fervorosos,

Sempre falando de paixões e ciúmes,

Retratando os sentimentos de um povo,

E decifrando costumes.

Mas as mulheres em sua delicadeza,

Também ecoavam seu canto,

As belas, Dalva de Oliveira e Ângela Maria,

Cantaram os amores vividos,

E sucessos como Rouxinol e lencinho branco,

No topo da euforia popular eram reconhecidos.

Saracoteia as meretrizes,

Sonham os amantes do proibido,

E a fumaça dos contos de histórias,

Torna estrela, os inibidos.

Fervilhando as rodas de samba,

Os seresteiros e andarilhos.

A generosa essência dos populares,

Aproxima os visitantes do bel-prazer,

Por conquistar os corações em delírios,

Recife é cenário indiscreto,

Da aristocracia aduaneira,

E do impetuoso querer.

E lá pela Freguesia de São Pedro Gonçalves,

Recife antigo em tempos modernos,

Caem fagulhas nas mesas de sinuca,

E nos lábios cheirando a charutos,

Carimbando moças e rapazes,

Em seus instantes astutos.

E o mestre Gilberto Freire,

Já dizia em tom maior,

Que foi em meados do século passado,

Que se acentuou sobre nós,

Sob a forma de atriz ou cômica de teatro,

A figura da prostituta de luxo, alteando a sua voz.

Oh pensões inesquecíveis,

Existiram na capital pernambucana:

Moulin Rouge, Chantecler,

Astória, Lupanar da Myrian,

Maria Braga, Silver Star,

Adília, Califórnia e Bagdá.

Maria Magra natural de buíque,

Viga-mestra de damas da noite,

Conheceu o apogeu da cena noturna,

Dessa cidade que encalorada,

Caracteriza-se por saciar a época,

Por uma realização sem censura.

Bares marcos da época,

Tantos são possíveis citar:

Duas Américas, Gambrinus,

Royal, Texas Bar, Bar 28, Scoth Bar,

Frequentados por marinheiros, damas e poetas,

Artistas, boêmios do além mar.

A boemia recifense,

Também foi exaltada pelos intelectuais,

O bairro antigo, universidade da madrugada,

Saúda a troca de informações e indagações por ideais,

Profissionais da alta cúpula,

Juízes, advogados, universitários e outros mais.

Nos círculos de pensadores,

Carlos Fernando, ator de teatro se firmou,

Trabalhou o movimento de cultura popular,

Acrescentou composições a sua carreira,

Um verdadeiro “banho de cheiro”,

Em seu acervo nos anos que iriam chegar.

O brilhantismo de Ascenso Ferreira,

Poeta querido dessa terra banhada por mar,

Apaixonado pela literatura,

Fenômeno do gênero popular,

Que mesmo em épocas de enfermidade,

Seu olhar expectador foi salutar.

Hoje em meio à tecnologia,

Do alcance rápido às mídias,

A boemia recifense,

Muda a face e o teor,

Sem perder de épocas áureas,

O seu regozijo esplendor.

Pessoas, grupos e tribos,

Falam linguagens anormais,

Valentes que defendem suas causas

Sem temer a capataz,

Nessa cidade que não foge a luta,

Cidadãos almejam o futuro sem temer ao destino audaz.

Gerações renovadas,

Embaladas pela modernidade,

Revelam-se flexíveis,

Possibilitando que a veleidade,

Unam-se em constante busca,

Por neutralizar dificuldades.

A boemia sempre foi membro,

Da cultura pernambucana,

Faz parte dos recifenses,

Da visão cotidiana,

Onde nos alambrados das pontes,

Gotejam o suor de espécies mundanas.

Viva ao Recife,

Aos festejos panorâmicos,

Aplausos à boemia,

Ao sonho gracioso,

Que se tem hoje,

Ou se teve um dia.

Reviver é indispensável,

Cuidar e não fraquejar,

A cultura enobrece o homem,

E distingue o ser vivente,

Do cidadão competente,

Então, avante aliados desta seiva boemia.

"A saudosa boemia ilustra a cultura pernambucana com o gracejo panorâmico do Recife centenário"

CarlaBezerra

Divina Flor
Enviado por Divina Flor em 23/02/2013
Reeditado em 22/07/2020
Código do texto: T4155237
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