RECIFE: Cheiro de Manhã de Carnaval
Saí a respirar o ar puro
da manhã de carnaval;
as ruas silenciosas tinham
o cheiro de ontem
mas não estava envelhecido:
embevecido, era guardado
como um sonho.
O vento trazia um eco
da noite anterior, e outras noites:
passos ritmados, às vezes nem tocavam
o chão
às vezes deixavam marcas, tão forte,
o ritmo
e a história, e a raça, e a glória
e a alegria
e as máscaras dos rostos do passado
agora tempo, passando
a desfilar o corpo como uma fantasia
e era,
liberdade da alma
e os compassos sentidos, coração acompanhando
como se ali, no chão da rua
na calçada da história
concreto quase, tão material.
Os pés pareciam dançar naquelas pedras,
meus pés,
como se fosse ontem à noite,
nas outras noites, nos outros dias, todos
tudo
tempo presente.
Ser livre, Recife, assim mesmo
Com cheiro de manhã de carnaval.