TATUAGEM
                                 (para André Bessa)
Lílian Maial 
 


O outono perdura na epiderme das folhas
secas e fundamentais,
para que a pintura se consuma.
 
Lago sereno, ao som da tarde,
observa os saltos cintilantes de mil peixes,
recolhe olhares distantes,
linha que se perde da memória
de um tempo sem pressa.
 
Sente a suave brisa inesperada,
hálito de espera,
em acordes de um amanhã sem promessas.
Sobre o leito de pedras, no ocaso,
sem dias ou noites,
apenas certezas na pele.

Primeiro verso do mesmo poema,
rima e irreverência no silêncio do verbo,
trama de letras com aroma de fruta madura.
 
Canção sob o riso das constelações
e a lúpica solidão na estepe.
 
Uma vez mais aurora.
 
 
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