O Silveira


( meu tetra avô)

Preâmbulo

O que importa, o que levamos da vida, são as emoções. Quando jovens, as emoções afloram e delas nós somos reféns. O nosso coração vibra, dispara com a presença da pessoa amada e perdemos o controle.

Na vida adulta, com as preocupações de trabalho, ocupados com a sobrevivência, as emoções ficam contidas, presas, não se soltam, inverte-se o processo, elas ficam reféns da nossa razão.

Quando ficamos idosos, novamente as emoções se soltam, libertamos aquele peso da repressão e elas afloram. Mas agora as emoções são outras,são de outra ordem, não existem mais as ansiedades, começamos a nos emocionar com nossas buscas interiores e com as lembranças do passado. São as boas emoções projetando o nosso futuro...

Hoje, são essas emoções que me dominam, e muitas vezes eu volto ao passado num resgate das coisas boas que ficaram registradas. Por esse motivo fiz essa poesia , que se segue, denominada O SILVEIRA, em homenagem ao meu tetra avô, que numa saga excepcional, foi um dos conquistadores, no século XVIII, das terras que hoje pertencem à cidade de Pirapetinga, que fica em Minas Gerais, divisa com o Estado do Rio de Janeiro, cuja fundadora, outra personagem maravilhosa, foi sua nora, Ana Luiza de Assis, viúva de seu filho Manoel João da Silveira, que doou as terras para edificar a Igreja de Santana na praça principal da cidade.


De Portugal, descendente,
Veio, por acidente,
E em terras do Brasil, parou.
Por ter prestado serviço,
A um ilustre senhor mestiço,
Uma sesmaria, do Imperador, ganhou...

De vida aventureira,
Ele era um Silveira,
Sem das selvas bem conhecer...
Com aquelas terras imensas,
Com suas florestas densas,
O que ele poderia fazer?

Ele era um mercador,
No mercado era doutor,
Mas nunca tinha plantado...
Como produzir arroz, feijão,
Melancia ou agrião,
Pra quem nunca fez roçado?

Comprou três bestas e selas,
E montou em uma delas,
Para as terras explorar...
E com um preto alforriado,
Que levou junto, ao seu lado,
Saiu para as terras procurar...

Atravessou matas, rios e serras,
Procurando as suas terras,
E com índios nus, guerreou...
Depois de várias semanas,
De mato cerrado e savanas,
Ele, enfim, as encontrou...

Junto a um rio caudaloso,
Sob um ipê, amarelo, frondoso,
Foi o local em que acamparam...
Bem além das taquaras,
Pastavam as capivaras,
Que com eles não se abalaram.

Lá construíram a casa da fazenda,
Fizeram curral e moenda,
Iluminada por lamparina e lampião.
Precisavam dar um nome ao lugar,
E tanto tempo sozinhos a ficar,
Denominaram-na de Fazenda Solidão...

À triste solidão que se impuseram,
Por viver naquela casa, sem ninguém,
Se tornou uma grande obsessão...
Teriam que ter família e se casar,
Escolher suas mulheres e ter um lar,
Para acabar com a terrível solidão...

Desse núcleo, Pirapetinga, se formou,
Dos Silveiras que com os Vieira se mesclou,
Depois vindo os Domingues, Luz e Leal...
Pela saga de um homem, o Silveira,
Que conseguiu superar toda barreira,
De uma estória que começou em Portugal.