Bem-me-quer
Como uma criança eu brincava de mal-me-quer sem saber que o bem me queria. Rabiscava folhas de papel escrevendo poemas, canções de amor para amores que eu não tinha. Fazia sonetos, versos e o mal-me-quer me seguia, essa era minha sina. Brincava com as pétalas sempre insegura, temia o mal-me-quer. A vida parecia tão dura. Estava sempre sozinha despetalando rosa, girassol e margarida, de forma rápida tudo terminava como começava o mal-me-quer se repetia. Foi então que pensei: se tudo começa mal como poderia terminar bem? Certo dia perdida em meu mundo imaginário cansada de vagar sem rumo, avistei uma pessoa sentada à beira do mar com uma flor e o coração despedaçado sobre a luz do luar. O tamanho da sua tristeza me fez perceber que a infelicidade não era minha exclusividade. Era alguém como eu, precisava de carinho, atenção, tinha a delicadeza de uma flor, olhei ao meu redor procurando por outra flor semelhante aquela que eu via bem na minha frente, resolvi sentar ao seu lado e entreguei um lírio com cinco pétalas reluzentes, pude ver um sorriso brotar de seu rosto. Olhei em seus olhos doces e me vi dentro deles, estremeci com a ternura desse olhar. Nesse momento compreendi que nada deve começar com o mal, sem pretensão alguma, de forma tão natural a brincadeira começou novamente, só que desta vez com o bem-me-quer.
Bem-me-quer, mal-me-quer! Sem ansiedade, uma a uma lançava ao vento, meu coração batia cada vez mais forte e finalmente falamos ao mesmo tempo: Bem-me-quer.
Depois disso tudo sorri feliz já não estava mais sozinha no mundo e percebi que o bem, o bem sempre me quis.