PARA DANILO

O menino se consome

Em sono, em fome,

Como se existisse algum homem

Que não fosse pagão.

Esse menino só reza,

Meu Deus.

O que ele espera de nós?

Páginas rosas

Marcadas de tempo?

A estória de Ruth

Não sabe o menino

Que gotas garoadas são esferas mínimas,

Que flutuam

No instinto das feras

E não eras de deuses

A soprarem molhado na terra?

Constrói o menino

A palavra dos santos

E só evoca mais prantos

Em nosso destino

Severo menino!

Seu olhar cruciforme

Não alimenta a vontade

Acalenta a inverdade

E aparente uniforme

O que tanto nos morde.

Não suplique ou venere

O que não pode sorrir-te, menino.

A atmosfera impiedosa do ser que te possui

É tão branca quanto esses versos.

E se os Salmos lhes repousam os cílios

E lhe acomoda os ossos

Lembrar-se-á das fronhas

Cobertas de sangue na sua chegada:

E nada mais que a própria vida lhe pertencerá.

Faça da noite a padroeira de todas as buscas, menino

E o infinito há de servir-te

Quando toda a sorte de estrelas

Penetrar o ocular da alma

Se sentirá em paz,

Pois não há nada mais humano

Que a fria luz desse sol inorbitado,

Quase estrela

Chamado Liberdade.