O LEÃO DE RAMALLAH
I
Estava o velho leão encurralado
à sombra das ruínas sua mansão,
ferido em seu orgulho e coração
por seu povo qu’ estava ameaçado.
O pão nas mesas pobres tem faltado
e frágil está o corpo sem razão,
não o deixa respirar o vil Falcão
qu’ o ar não passa em muro reforçado.
Nos peitos da miséria passa o ódio
que denuncia em si a falsa paz
que rastejando vai até ao pódio...
Ai, filhos de David, a história traz
na espada d’ Alexandre o nó de górdio
que por vós em Ramallah forte jaz !
II
Em Ramallah nas suas cercanias
imperturbável a serena morte
vai criando uma teia de tal sorte
que deixa antever as mordomias.
Yasser parece débil de energias
porém dentro da alma vai-lhe o porte
qu’ ao destino deixou traçado o norte
num testamento ousado sem franquias.
A vida se apagou na cidade-luz
mas a esperança voltou por entre mãos
ao coração da paz que já reluz.
Ai, sonhos de criança, sonhos vãos,
crede nesse destino que seduz :
Sião e Israel sereis irmãos !
Frassino Machado
In OS FILHOS DA ESPERANÇA