Ao gato morto

Oh tu que jazes estrebuchado

Pelo veneno talvez

inchado

Clama

Contra a mesquinhez humana.

Porque teu crime foi

ter defecado.

Contrariaste a proteção aos quintais alheios.

Dizem que fizeste uma velhinha chorar.

Agiste de forma desumana –

Mas tu não és homem,

és gato!

De mais a mais,

não acredito que o tenhas feito.

Não que fosses demasiado educado.

Mas demasiado preguiçoso eras, sim.

Na época havia uma centena

de teus semelhantes por essas paragens.

E, com certeza, um.

Mas gatos, incógnitos,

para todos os efeitos não existem,

porque impossibilitariam queixas.

Existe sim o gato da vizinha,

conhecido portanto culpado.

Chora, felino!

Se querias viver, vieste ao mundo errado. Aqui

Tua vida não valeu

Um pouco de QBoa.

2009-07-22

Em memória de Pablito.