BAGAGEM QUE NÃO SE DESFAZ
Eram 04:30 da manhã, o telefone toca o seu toque peculiar como um sinal de emergência.
Naquela hora, correm apressados os anjos a informar a notícia que não pede clemência.
A voz chorosa do outro lado da linha, já não se continha em anunciar a mensagem derradeira.
Soam os sinos dos céus para abrirem-se as portas da pátria verdadeira.
Neste momento tal como uma sentinela em seu posto de serviço, o galo, no fundo do quintal, cumprido o seu majestoso ritual.
Apressa-se a entoar o seu terceiro canto;
Cerram-se os olhos e explode do peito um silencioso pranto.
Sentimentos interligados, o fio de prata havia se rompido ;
Agora liberto, voa um pássaro com a sensação do dever cumprido.
“era feito aquela gente honesta, boa e comovida, que caminha para morte, pensando em vencer na vida”.(*)
Um filho certa vez, sem pensar direito, nas suas prosas de moço olvido;
afirmara que gostaria de ser pelo menos a metade do que é o seu pai...
Outro dia um mensageiro atento, sem se fazer notar, sussurra-me ao pé do ouvido;
...Quiseras apreender um centésimo da experiência daquele que se vai.
Obrigado meu pai Lourival, por ora descansa em paz;
Te espero lá pela esquina da vida,
Quando toda dor já for esquecida;
Para re-arrumarmos a nossa bagagem que nunca se desfaz.
PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)
(*) trecho da letra da música de Belchior (pequeno perfil de um cidadão comum)