Ontem, Clarice...
Sim, Clarice, morremos!
Morremos todos os dias, num pouco de tudo
Morremos do mundo, em sombra nos apagamos
E cinzas nos tornamos,
Até ao ponto de perceberem a nossa inexistência
Iludimo-nos com o vazio, com a falsa consciência,
Nesse jogo de palavras que se chama vida social,
Nessa persistência tola, nesse falso ideal
Sim, Clarice, somos nada!
O fracasso, o sucesso, a vida embriagada
E o que fizemos de nos mesmos? A não ser sentir grande pesar
Sentir pena, tristezas, apenas lamentar
Sim, Clarice, só o efêmero existe!
Das coisas permanentes nada sabemos, e o que é triste
Nada temos, Clarice, nada somos!