A Isac Karan
Eu quis chorar.
Por todas as fraquezas que há em mim,
pela falta de paz,
por ser pedaço errante de poesia
esquecida na poeira que eu mesmo crio,
por não ser capaz de disfarçar-me entre o bem e o mal,
sim,
quis chorar.
Como convém a fracos,
pútridos, sujeitos nas
múltiplas formas etimológicas.
Quis chorar por não saber sorrir.
Mas creio nos sorrisos,
nos mais sinceros, sem preocupações,
os que se nos dão por simples reconhecimento da reação humana,
sem princípios místicos ou pretensões filosóficas a respeito do SER.
Vi minha felicidade como que presa, a gemer-se de alegria e espanto
por entre os dentes do meu filho... filhão!
Que sorria alegremente,
que cuidava de Deus e do mundo,
que traduzia o divino nos toques mais humanos e suados
de uma tarde festiva em escola.
Filhão,
que me apresenta a face mais boba da vida,
mas que me traslada suavemente,
pelo simples fato de exalar-se do verdadeiro,
sem fingimentos, mas verdadeira poesia escrita por lábios.
Filho,
talvez teu pai tenha escondido as lágrimas de ti,
e conteve os gritos de raiva
ou os surtos de desespero
por não achar-se capaz de ser mero mantenedor do teu sorriso,
mas, acredite,
continue a sorrir assim para o teu papai,
pois teus manifestos pueris e limpos
acabam por traduzir minhas orações
sufocadas nos pulmões cancerosos, contidas num canto amargo da boca,
as orações que já não valem tanto.
Traduze-as, sim,
para que Deus se compadeça do meu pranto
e me dê teus sorrisos por anos incontáveis.