A Isac Karan

Eu quis chorar.

Por todas as fraquezas que há em mim,

pela falta de paz,

por ser pedaço errante de poesia

esquecida na poeira que eu mesmo crio,

por não ser capaz de disfarçar-me entre o bem e o mal,

sim,

quis chorar.

Como convém a fracos,

pútridos, sujeitos nas

múltiplas formas etimológicas.

Quis chorar por não saber sorrir.

Mas creio nos sorrisos,

nos mais sinceros, sem preocupações,

os que se nos dão por simples reconhecimento da reação humana,

sem princípios místicos ou pretensões filosóficas a respeito do SER.

Vi minha felicidade como que presa, a gemer-se de alegria e espanto

por entre os dentes do meu filho... filhão!

Que sorria alegremente,

que cuidava de Deus e do mundo,

que traduzia o divino nos toques mais humanos e suados

de uma tarde festiva em escola.

Filhão,

que me apresenta a face mais boba da vida,

mas que me traslada suavemente,

pelo simples fato de exalar-se do verdadeiro,

sem fingimentos, mas verdadeira poesia escrita por lábios.

Filho,

talvez teu pai tenha escondido as lágrimas de ti,

e conteve os gritos de raiva

ou os surtos de desespero

por não achar-se capaz de ser mero mantenedor do teu sorriso,

mas, acredite,

continue a sorrir assim para o teu papai,

pois teus manifestos pueris e limpos

acabam por traduzir minhas orações

sufocadas nos pulmões cancerosos, contidas num canto amargo da boca,

as orações que já não valem tanto.

Traduze-as, sim,

para que Deus se compadeça do meu pranto

e me dê teus sorrisos por anos incontáveis.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 20/06/2012
Reeditado em 11/04/2016
Código do texto: T3735491
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