EU de Florbela Espanca / para Ulisses
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do sonho, e desta sorte
Sou a crucificada...a dolorida...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
Parabéns Florbela Espanca
Até ao fim inseparável da Florbela-mulher, teve somente uma Florbela: a da poesia generosa, convulsa e ardente do Fogo, a dos extremos de ternura e das amarguras do sofrimento, dos estados hiperexcessivos de consciência da solidão, da dor e do AMOR.
Cansada de amar... amar... perdidamente e de não ser correspondida, resolvia, mais por orgulho, e a ainda mais por dignidade, olhar a situação de frente, sem covardias nem fraquezas, acabava a relação, sem um remorso, sem a mais pena mágoa.
É assim, que de forma corajosa, cada mulher de cabeça erguida deve prosseguir a sua vida. Porque em quanto vivas, há sempre esperança de vir a Amar...Amar... perdidamente por alguém que reconheça o seu verdadeiro valor, em quanto mulher.