Baía de Guanabara. Rio de Janeiro.
«NAVEGAR É PRECISO...»
Apraz-me esse teu deboche,
Gosto dessa tua crítica mesquinha,
Sórdida, vil, mordaz,
A cada texto que escrevo.
Porque insistes em não ter paz?
Estou e sempre estarei aqui,
Calma, impávida
E serena, sorrindo,
Enquanto tentas menosprezar,
Espezinhar, desvalorizar,
As palavras
Que da minha mão,
Leves, como brisa, vão saindo...
Amo esses teus presentes,
São venenos,
Embrulhados em mel!
Adoro quando zombas
Dos sentimentos,
Emoções e pensamentos,
Que coloco no papel.
Ouve: escrever é meu navegar,
Jamais irei cansar!
E o teu (vão) esforço
Sempre me fará rir!
Mais ainda, porque percebo
Que meus versos,
Em face a tua sordidez,
Te trazem emoção,
Te fazem sorrir,
Tocam teu coração!
Ah, meu anônimo amigo,
Sinto que a tua vida
É um verdadeiro poema,
Apenas lhe falta correção,
Lamentavelmente,
Foi escrito
Desajustadamente,
Com símbolos arcaicos,
Desnecessário acento,
Hífen e trema…
Ah, marinheiro de águas
Fétidas e tão paradas…
Conhecesses tu
A felicidade,
A agitação do meu mar…
Nunca mais por aqui
Desejarias navegar…
Ah, navegante de mares
Alheios...
Pessoas como tu
Jamais entenderão
Que «navegar é preciso…»
E para sempre,
Na suja lama de sua vida
Boiarão…
Fernando Pessoa imortalizou a frase “Navegar é preciso, viver não é preciso”, quase indecifrável para algumas pessoas, e que se tornou um poema belíssimo integrante da sua magna obra «A Mensagem».
Para compreendermos o seu significado, precisamos saber que o verbo “precisar” se refere a alguma coisa “necessária”. “Preciso” diz respeito à precisão, à certeza, à exatidão. Os marinheiros portugueses, exímios conhecedores das técnicas de navegação, tinham a bússola, o sextante, o quadrante, mapas, e outros instrumentos que faziam do ofício de navegar uma coisa segura e “precisa”. Sim, navegar é uma viagem exata, precisa! Já o viver... definitivamente o viver é impreciso. Viver é algo que se faz por improviso, sem exatidão. Viver é uma viagem feita de opções, medos, inseguranças, persistências e transições. Sabemos quando começa, mas nunca quando e onde acaba. Mas tanto navegar como viver têm como objetivo chegar a um porto seguro após passar por momentos de águas revoltas ou de calmarias. O partir e o chegar são comuns aos barcos e à vida. Levantando as velas nos lançamos no desconhecido com a certeza que não estamos aqui para ficarmos inertes. Mas, lamentavelmente, nem todas as pessoas têm a coragem necessária para navegar, algumas apenas boiam e tentam afundar os outros.
Ana Flor do Lácio