Oito palavras (ou do pai lavras)

Cidade pitoresca

Clima moderado

Sombra e água fresca

Num dia ensolarado

Passeio de carro

Sensato motorista

No asfalto ou no barro

É sábio manobrista

Contentamento

Fora de série

Entendimento

Em plena intempérie

Esclarecimento

Claro e sentido

É sentimento

Enobrecido

Cidade serrana

Temperatura amena

No meio das árvores

Casa pequena

Lar gigantesco

A se iluminar

Biscoito, refresco

Depois do jantar

Cautela é conquista

Dos cabelos brancos

Da testa do artista

E dos saltimbancos

Prudência é progresso

Diz esse ancião

Que espera o sucesso

Mas sem ambição

Já vive um processo

De ocaso aos sessenta

É aqui que regresso

Ao dom que reinventa

E no sessentão

Eu vejo é um guri

Com toda a razão

De seguir aqui

Em sua morada

Momentos felizes

Pois de madrugada

Só passam reprises

Em meio a esse nada

São dois aprendizes

Buscando a alvorada

Nos róseos matizes

Jogando canastra

Assistem o Jô

O riso se alastra

Será que é caô?

Na inútil cultura

Do Windows, um vê

Bem mais opções

Do que na tevê

Falo sem medo

Tênis de mesa

Dantes brinquedo

É luz acesa

Sempre a iluminar

A sala de estar

E incríveis projetos

De um nobre arquiteto

Também grande autônomo

Autodidata

E até um agrônomo

Da virgem mata

Grama e capim

Tiram do sério

Nesse jardim

Que é necrotério

De insetos e pragas (que guerra!)

Que se ele deixa (vingarem)

Provocam chagas (na terra!)

Fazendo as queixas (brotarem)

Roubam-lhe o sono

Como esse chão

Que já tem dono

É meu paizão

Piso da casa

É laminado

Dono da taba

É iluminado

É um engenheiro

Formado em informática

É um marceneiro

Na planta e na prática

É um pedagogo (na lida)

Sempre elogia

Joga esse jogo (da vida)

Com maestria

Seus ancestrais

Ao lado dele

Não foram mais

Do que hoje é ele

Pois ele herdou

Fora a genética

O que gravou:

Moral e ética

(Música eclética)

Que estão presentes

Na consciência

Reminiscente

Doutras vivências

Ele hoje é Rudi

Mas a atitude

É dum arcanjo

Que foi seu pai

Ele hoje é Zé

Tem força e fé

Na vida é um anjo

Que nunca sai

Da minha mente

É o professor

Pra muita gente

É um benfeitor

Do meu presente

É o precursor

É experiente

É sonhador

E meu amigo

Leal e fiel

Seu sóbrio abrigo

Pra mim é um hotel

De sete estrelas

Lá, meu conforto

Não é de pedra

Como o do morto

Mesa de cedro

Ele não tem

Mas tem o amor

Que me faz bem

Seu hot-dog

Não tem salsicha

Pois que um Bulldog

Nunca se micha

Perante os fracos

Que dele zombam

Mas matam bois

Bichos que tombam

Isso, ora pois

É quase tão vil

Quanto os ladrões

Que portas arrombam

E o imbecil

Não é o que se abstém

Tolo e senil

É o que se alimenta

(e não se contenta)

Com o que não lhe faz bem

Mas lhe convém tratar o outro

Com desdém

Irão se lembrar

Irão certamente

De um certo pagodeiro

Que ao dedilhar

Timidamente

Um rico solo inteiro

Era aplaudido (querido)

Pelo bebum

Meio perdido (fedido)

Que "solta pum"

Pois é tão simples

E ignorante

Que não percebe

O quão distante

Ele reside

Da própria essência

E o quanto agride

Sua decência

Voltando ao velho

O violonista

Que é muito sério

E idealista

Quero que chore

Quando ler isto

Que se emocione

Nisso persisto

Seu microfone

Me deu talento (e alento)

Seu telefone

Maturidade (e saudade)

Seu sobrenome

Identidade (e bondade)

I'm not alone

Nesse momento (e o vento?)

Sou um Rodrigues

Isso não nego

Mesmo que obrigues (-me)

A ficar cego

Inda trarei

Em mim o emblema

Por quem farei

Outro poema

É meu papai

Desde essa infância

Hoje eu, ai, ai

Vou a Caxias

Onde um dos bairros

Sem relevância

Meio escondido

Periferias

Hoje é pra mim

Jovem, pequeno

Como o meu fim

Pleno e sereno

Calça de brim

Levo na mala (para lavá-la)

Setembro, enfim

É uma mandala (e uma cabala)

Cujo reflexo

É como a paz

Branco, em anexo

A esse rapaz

Talvez buscando o nexo

De mais oito palavras

Tu vais ficar perplexo

Porque não és das lavras

Artísticas como eu

Tal arte está em meu sangue

Mas tu possuis a técnica

Que nunca fica estanque

Em termos criativos

A arte sem a técnica

(e a técnica sem arte)

São meros lenitivos

(Inúteis paliativos)

Destarte fica a parte

Interna e posterior

E enfim, os tais vocábulos

Que o gênio criador

Receita em sua fábula

Provém da lei de amor

E tu já lhos conheces

São elas "EU TE AMO

E ESTÁS EM MINHAS PRECES"!