O padre de lambreta

Lá vinha o padre

de lambreta

e roupa preta

sua impecável batina

Lá vinha o padre

a gente reverenciava

a benção lhe pedia

as suas mãos beijava

Lá vinha o padre

em tudo tão natural

aquela figura quase angelical

que se curvava na pia batismal

Lá vinha o padre

a celebrar a santa missa em latim

a proferir o sermão dominical assim

como um pastor de almas, enfim

Lá vinha o padre

após os rituais de cânticos e salmos

a nos ofertar o vinho e o pão sagrados

na hóstia recebida em jejum, na comunhão dos fiéis

Lá vinha o padre

celebrando novas uniões, crismas e batismos

escutando e perdoando com discrição os pecados

no confessionário da Igreja de Sta. Terezinha

Lá vinha o padre

célere em sua lambreta italiana

para dar a extrema-unção aos enfermos

a tempo de preparar a procissão do senhor morto

Lá vinha o padre

nas festas da padroeira,

no sorriso pela alegria das crianças

nas quermesses para ajudar os necessitados

Lá vinha o padre

no preparo dos coroinhas

nos sermões pelas famílias

no presépio iluminado do Natal

Lá vinha o padre

até que um acidente fatal

lhe interrompeu o caminho

na linha do trem barrense.

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 15/10/2011, homenagem póstuma ao Pe. Henrique Heilzman, da paróquia da Santa Terezinha, da minha cidade natal: Santanésia, Piraí.